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Nascida no cerimonial

Hoje inicio uma coluna onde irei compartilhar com vocês as minhas histórias dos bastidores dos casamentos. Para quem não me conhece eu sou a Laura, filha da cerimonialista Thais de Carvalho Dias, responsável  pelos maiores casamentos do Rio de Janeiro por mais de 35 anos, ou seja, nasci em um cerimonial.

Desde muito pequena eu e meus 4 irmãos ajudávamos minha mãe em algumas atividades simples no cerimonial, como por exemplo inserir os convites de casamento nos envelopes, esse trabalho hoje em dia é feito pelo calígrafo, mas lá em 1986 quando eu tinha 9 anos era o cerimonial quem fazia esse trabalho, e minha mãe vendo 5 crianças em casa não pensou duas vezes e colocou todo mundo para ajudar.

O primeiro trabalho…

O primeiro trabalho foi esse, envelopar os convites, mas quando já estávamos bem alfabetizados o trabalho evoluiu, passamos a organizar e escrever a lista de convidados, que era feita em pequenas fichas pautadas que ficavam dentro de uma caixinha de metal com separação por ordem alfabética. Não existia computador na época.

Leia também: 10 perguntas para ajudar na sua lista de convidados

 

Lembro que me senti muito amadurecida quando em uma viagem para Angra eu “tive” que parar de brincar um pouco para colocar uma lista, já escrita pela minha mãe, em ordem alfabética “bética”. Já escutaram isso? Era o que eu mais escutava, para mim o A estando antes do B estava tudo certo, mas… a banda não tocava assim, tinha que seguir fazendo a ordem alfabética dentro da palavra, e eu escutava: “minha filha é ordem alfabética bética!!”

 

Confirmações e suas saias justas…

Na evolução da carreira mirim dentro de um cerimonial o próximo passo, e bem importante, era quando entrávamos em contato com os clientes. E a primeira função neste sentido era a confirmação de presenças. Até hoje curto essa função, mas já não tenho tempo para esse tipo de “plástico bolha”. Esse momento de ligar para um desconhecido era uma emoção!

Eu sou muito esquecida, então eu anotava em um papel tudo o que eu ia falar e me preparava para discar. Do outro lado um monte de possibilidades, onde o improviso certamente seria necessário, e eu ficava muito ansiosa com isso. Tinha muita esposa que atendia e não gostava nada de ouvir uma voz feminina (novinha 14/15 anos) perguntando: “O Sr. Fulano das Couves, está?” Algumas eram educadas e perguntavam gentilmente “Quem quer falar com ele?” e eu seguia com a minha cola, mas tinham outras que já partiam para a ignorância “O que você quer com o meu marido?”, eu ficava aflita, perdia o rebolado. Com o tempo descobri que eu tinha que incluir a esposa na pergunta e a partir daí 99% dos meus problemas acabaram, eu começava assim: “Eu poderia falar com o Sr. Fulano ou com a esposa dele? Aí tudo corria às mil maravilhas, ninguém se sentia ameaçado e eu conseguia a resposta: se o casal afinal iria ou não ao casamento.

As empregadas domésticas também rendiam boas histórias e saias justas. A minha preferida, que nunca vou esquecer, foi uma fofa que não entendeu o que eu estava perguntado e já saiu dizendo “Ahh a Sra. pode confirmar sim, a Dona Claudia e Sr. Rodrigo são muito bem casados sim. Se alguém tá duvidando disso pode falar comigo que eu confirmo que eles são amigos, quase não brigam, é um casal firme! Pode confirmar!” Ops, eu super sem graça de interromper e dizer, “não moça… é que eles foram convidados para um casamento e eu quero saber se eles vão comparecer”, a coitada morreu de vergonha e eu também. Mas curti a lealdade da moça.

A regra lá em casa era: só poder sair para o final de semana depois de terminar os trabalhinhos que minha mãe pedia. Muitas vezes os amigos ajudavam para acabar mais rápido para podermos sair. Volta e meia em papo com amigos mais antigos aparece esse comentário “lá na casa da Laura quem entrava tinha que trabalhar!”.

 

Sendo recepcionista…

O cargo máximo nessa carreira de menor aprendiz é o de recepcionista, inclusive porque é o único trabalho remunerado. Minha mãe sempre pagou muito bem às recepcionistas e desde o 1º casamento ganhávamos como qualquer outro da equipe, um dinheirão para aquele momento da nossa vida. O trabalho de recepcionista financiou toda a minha adolescência. Comecei aos 14 anos.

Lembro que nos primeiros eventos, lá pelas 02:00 da manhã eu já não aguentava de sono e ia para o banheiro, sentava no vaso fechado, puxava minhas pernas para cima e fingia que o banheiro estava interditado. Dormia 20 minutos culpada, acordava no sobressalto achando que já tinha passado 6 horas e não adiantava nada, voltava a morrer de sono em 15 minutos. Graças a Deus acostumei rápido. O que eu não consegui, e não consigo até hoje, é acostumar a não poder dançar! Socorro meu corpo não me obedece!

Enquanto eu era recepcionista, uma das funções que eu mais desempenhei nos casamentos, foi o de ficar direto com a noiva, ver se ela está bebendo água, arrumar o cabelo, retocar batom… até massagem no pé eu fazia! Adoro servir uma noiva, cuidar da melhor maneira possível! Hoje chamamos essa função de bride sitter (babá de noiva). Os únicos profissionais que ficavam 100% do tempo atrás dos noivos eram os fotógrafos e uma recepcionista, hoje em dia tem também o cinegrafista e às vezes um garçom.

O primeiro casamento a gente nunca esquece…

Aos 16 anos fiz meu primeiro casamento sozinha, do filho do meu Otorrino. Lembro muito da cerimônia, mas da festa já não me lembro tanto. Foi no Mosteiro de São Bento e deu tudo certo. No dia seguinte ele ligou para a minha mãe para agradecer e disse que tinha sido tudo perfeito, que em time que está ganhando não se mexe e se ele casasse outro filho, seria comigo novamente. Curti!

Amigos queridos da fotografia…

Passei muitos anos na companhia de pessoas muito queridas que trabalham até hoje, como eu, com casamentos. Foi mais de uma década trabalhando noite a dentro com o Ribas e o Aszmann, existiam outros no mercado como o Gentil e o Flavius, mas nos casamentos da minha mãe 99% eram eles dois! Nos casamentos mais tradicionais era o Aszmann, já o Ribas inovava com a sua cobertura jornalística, onde as fotos eram mais espontâneas. Eles eram tão diferentes em suas propostas que muitas vezes os 2 eram contratados pra o mesmo casamento.

O que mudou…

Nesses últimos 25 anos muita coisa mudou. O buffet, era o item principal de um casamento, o casamento em si era considerado um banquete oferecido aos convidados após a cerimônia, tinha que ter uma carne, um peixe, uma massa e salada, nada de mini porções, e no final sobremesa, tudo muito tradicional com baixelas de prata e garçons mais velhos.

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O DJ não tinha muita importância, lembro dos casamentos com o Elvert Brandão, que tocava piano nas recepções e gravou uma fita cassete com músicas mais animadas para rodar enquanto ele saía para o intervalo, alguns casais levantavam para dançar juntos. Discoteca mesmo só mais tarde com o DJ Marcio Torres. Este fez TODOS os casamentos de uma época, Ricardinho Araújo, hoje da Rastropop, e o Sérgio Martins foram DJs da equipe dele e estão até hoje no mercado.

 

Concluindo…

Trabalhando eu conheci meu marido, aos 25 anos, e quando minha 2ª filha nasceu deixei de trabalhar com a minha mãe para me dedicar a uma empresa que eu e meu marido abrimos juntos, a AG2 Digital, que faz filmes de casamento.

Hoje faço o cerimonial dos casamentos da minha mãe quando ela tem dois no mesmo dia. Adoro quando tenho essa oportunidade porque é uma maneira de matar a saudade que tenho de estar no dia-a-dia dos casamentos e encontrar os fornecedores queridos, amigos de uma vida inteira.

Vou me despedindo por aqui, beijos e até a próxima!

 

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15 comentários em “Nascida no cerimonial”

  1. Laurinha, amei a coluna! As histórias, o jeito de escrever, tudo. E bateu uma saudade do escritório no canto da sala com a mega parede de cortiça… bjs grandes

  2. Amei!!! Voltei ao passado!!! Seu texto é uma delícia e sua história mostra toda a sua dedicação. Você tem uma mãe forte, exigente e guerreira por isso sempre terá muito sucesso!!! Um beijo carinhoso Ana

  3. Amei, Laura! Deve ser uma delicia trabalhar nesse mercado de casamentos! E amei a AG2, que fez o filme do meu casamento e ficou perfeito!
    Beijos pra vc! ??

    1. É sim Tati, trabalhar com casamentos é tudo de bom! Momento da esperança mais linda do ser humano, que é criar uma nova família, não é? E a AG2 nasceu do casamento de uma cerimonialista com um cineasta, só podia dar em filmes de casamento! Amei fazer o filme de vocês! ❤️

  4. Amei seu blog ! Achava que Thais tivesse apenas filhos homens ! Parabens e muito sucesso !
    Beijos Sylvia Sitnoveter da Wines and Roses bebidas finas.

  5. Evelina Pereira Malachias Courinho

    Laura,
    Que delicia ler a respeito de sua carreira que começou tão precocemente!
    Thaís sempre foi empreendedora de grandes idéias e depois que li o seu depoimento, tive certeza de que, investir no talento de vocês, ainda tão jovens, foi um grande acerto dela!
    Parabéns por tudo o que vocé já fez até hoje, conseguindo lugar de excelência e prestigio pelo seu trabalho!
    Acompanho aqui pelo face, os casamentos lindos que vocês fazem
    Cumprimento também, todo o trabalho da equipe que vocês formaram!
    Sucesso sempre!
    Evelina

    1. Kkkk amo você Dark!!! Obrigada pelo apoio de sempre!! Esse “li tudinho” é engraçado… Menina escrevi tanto que fui “navalhada”, imagina o texto completo antes da revisão?? Rsrsrs Vou me conter da próxima vez! rsrsrs Vou pegando o jeito no caminho. Beijos!!

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